O que é “burnout” e como evitá-lo?

Um homem careca, aparentando cerca de 60 anos, está sentado à escrivaninha com um fone de ouvido, defronte a um computador preto. Ele veste uma camiseta casual azul e um suéter verde militar, além de portar óculos de armação clara e moderna. Ele tem um bebê de cabelos loiros, vestindo um moletom cinza com desenhos de tratores e toras de madeira, no colo. O homem mira algo na tela do computador com semblante compenetrado, enquanto a criança olha para outra coisa distraidamente. O adulto parece estar trabalhando e cuidando do bebê ao mesmo tempo.
O autoconhecimento é importante para prevenir o burnout (Créditos: Getty Images)

Esgotamento físico e psicológico, falta de energia, indiferença... você já sentiu isso em relação a seu trabalho? O excesso de tarefas e o grau de exigência aos quais muitas pessoas se submetem e são submetidas, ao longo do tempo, pode cobrar um preço à saúde emocional, desencadeando a chamada síndrome de burnout. Para entender melhor essa condição, que afeta parte considerável da população, e suas implicações, nós conversamos com o psicólogo Bruno Souza. Confira!

O que é a síndrome de burnout?

“Burnout” é um termo desenvolvido na década de 1970, referente à sensação de esgotamento psicológico e social, cujas causas são variadas. “Sabendo que cada pessoa é um ser biopsicocultural único, pertencente a uma sociedade e sistema familiar, podem existir diversas causas para o burnout, geralmente atribuído a uma tensão emocional crônica”, conta o psicólogo. “As inúmeras demandas e exigências no trabalho e em outras esferas de nossas vidas também pesam. Por isso, é recorrente verificar acúmulo de tarefas, pressão e responsabilidades geradas pela demanda de trabalho em pessoas com a síndrome, algo bem comum em nossa sociedade.”

Muitos sintomas de burnout são relacionados ao trabalho

A síndrome de burnout se apresenta através de uma série de desconfortos psicológicos e sociais, muitas vezes lentamente. Portanto, é importante monitorar como você se sente. “O principal sintoma do burnout é a exaustão emocional referente ao esgotamento e à falta de energia para a vida como um todo, além de despersonalização, com indiferença e frieza em relação ao trabalho e aos colegas, e perda da realização pessoal, no tocante ao sentimento de ineficiência e incapacidade profissional”, afirma Bruno Souza. A síndrome pode afetar também suas relações com familiares e companheiros e ocasionar desconfortos físicos, como dores de cabeça, tensões musculares e dificuldades em regular o sono. 

Entenda a diferença entre depressão, ansiedade e síndrome de burnout

Por conta do esgotamento e da indiferença causados pelo burnout, muita gente confunde essa condição com depressão, ansiedade ou simplesmente stress. “O stress e a ansiedade são respostas biológicas subjetivas, que nos defendem em situações nas quais exista algum risco. Pode ocorrer diante de um incêndio ou ao esperar uma ligação importante”, explica o psicólogo. “O portador de depressão, por sua vez, tem baixa auto-estima, perspectiva negativa do futuro e dificuldades de concentração. Além disso, não tem ânimo para realizar tarefas cotidianas e nutre sentimentos de culpa e inutilidade e pensamentos autodestrutivos.” O burnout, por outro lado, é listado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) não como doença, mas “fenômeno ligado ao trabalho”.

Excesso de tarefas domésticas também causam esgotamento mental

Apesar de conectada às relações de trabalho pela própria OMS, a síndrome de burnout pode se originar também em outros aspectos da vida pessoal, mais notadamente no âmbito doméstico. “Sabemos o quanto somos demandados e cobrados em vários setores em nossas vidas”, diz Bruno Souza. “Então, ao pensarmos em múltiplos fatores, a sobrecarga de tarefas domésticas pode corroborar com o burnout, assim como diversas outras condições.”

O home office pode ser um vilão 

Por conta da pandemia de Covid-19, muitos trabalhadores migraram para o sistema remoto. No teletrabalho, os limites entre o privado e o profissional se enfraqueceram, e muita gente passou a trabalhar mais. Criou-se o ambiente perfeito para maior incidência de burnout. “O sistema de teletrabalho é uma ferramenta que, se utilizada como forma de explorar o empregado, contribui para mais casos de burnout”, indica o psicólogo. “Ao obrigarmos o funcionário a trabalhar mais, ameaçando direta ou indiretamente a estabilidade do cargo, facilitamos o desequilíbrio emocional, contribuindo para o esgotamento e, porventura, o burnout.”

O autoconhecimento é fundamental para combater a síndrome de burnout

Em geral, lê-se que boas rotinas de exercício e sono, aliadas à alimentação balanceada, são positivas para combater o burnout. Por mais que tudo isso seja bem-vindo, há melhores maneiras de combater a síndrome. “Na minha experiência, a psicoterapia é eficaz em conduzir o paciente à compreensão da funcionalidade dos sintomas em sua vida e como eles se tornam disfuncionais”, conta Bruno Souza. “Isso leva a um processo de conscientização, que ajuda a pessoa a encontrar formas mais funcionais de lidar com situações conflitantes. A melhor forma de prevenir o burnout é o autoconhecimento.”

Bruno Souza é psicólogo com especialização em gestalt-terapia. | Site. | Instagram

por Daniel Schulze



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