Ansiedade do espelho: saiba mais

Homem triste tapando a sua própria imagem.
Tempos em que a própria imagem é constantemente avaliada nas redes sociais, buscar tratar o problema é importante. (Créditos: Getty Images)

Se você julga constantemente a sua aparência, pode ser que você sofra de ansiedade do espelho. O problema é comum entre pessoas que estão frequentemente olhando suas imagens refletidas e, em alguns casos, pode evoluir para depressão. Geralmente, quem sofre de ansiedade do espelho sempre encontra defeitos e exagera negativamente traços da própria aparência. Se identificou com os sintomas, mas nunca ouviu falar do assunto? Conversamos com o psicólogo Felippe Borges para tirar todas as suas dúvidas. Confira só!

Ansiedade do espelho: entenda o que é e saiba se você sofre com esse problema

Não há problema nenhum em ser vaidoso e se preocupar com a própria aparência. Aqui no Mano a mano, nós estamos sempre dando dicas de grooming e hábitos saudáveis para que você seja a melhor versão de si mesmo. Porém, quando essa preocupação é excessiva e as olhadas no espelho ocupam grande parte do seu dia, pode se tratar de um transtorno conhecido como ansiedade do espelho. 

Segundo o psicólogo Felippe Borges, quem sofre com esse problema vive em um ciclo repetitivo onde cada encarada no próprio reflexo revela novos defeitos. “Nesse olhar constante, algumas marcas, pintas ou espinhas que pareciam imperceptíveis num primeiro momento, parecem crescer de tamanho à medida que nos olhamos”, informa.

De acordo com o especialista, o golpe na autoestima é a principal consequência e pode atingir mais gravemente quem já tem inseguranças com a aparência ou outros transtornos, como a depressão. “Isso, é claro, torna-se prejudicial para a nossa autoestima, especialmente para aquelas pessoas que já apresentam sinais de insegurança ou mesmo de ansiedade e depressão - o que irá contribuir para a elevação de seus sintomas”, afirma. Assim, a autoestima baixa, a visão extremamente negativa dos seus traços e o sofrimento são os principais indicadores de que se trata de um transtorno.

Ansiedade normal x Ansiedade patológica: como diferenciar os sintomas?

Antes de ligar o sinal de alerta, é importante diferenciar os níveis de ansiedade. Segundo o psicólogo, “de um modo ou de outro, todos nós somos ansiosos em algum nível”. O doutor usa as emoções de um primeiro encontro para exemplificar o que seria, de acordo com a Psicologia, uma “ansiedade normal”. “Nessas ocasiões, é normal que faltem palavras, que as mãos fiquem suadas ou que o nervosismo domine a conversa, especialmente nos primeiros minutos”, afirma. Por outro lado, quando essas emoções são constantes no seu dia a dia, pode ser um sinal de que você desenvolveu o que Felippe chama de “ansiedade patológica”.

“Essa ansiedade patológica se dá quando as incertezas ou preocupações se tornam regras na vida da pessoa. Essa pessoa, retomando o exemplo anterior do casal num primeiro encontro, talvez nem mesmo fosse a esse encontro em virtude de toda angústia que essa situação lhe causaria”, explica o especialista. “Dito em outras palavras, a pessoa ansiosa, por não possuir total controle sobre os eventos em sua vida, opta em evitar o conflito ou mesmo o seu desejo, o que lhe causa grande sofrimento”, completa. 

Quando o assunto é ansiedade do espelho, um exemplo seria deixar de participar de um compromisso importante, como uma entrevista de emprego ou até mesmo encontro, por conta da visão negativa da própria aparência e o incômodo com os supostos defeitos encontrados a cada olhada no espelho.

Excesso de exposição às redes sociais e câmeras pode agravar o incômodo com a aparência

Se você vive conectado, atenção: as redes sociais podem estar influenciando ou agravando os seus problemas com a aparência. Para o psicólogo, o consumo constante de conteúdos de pessoas aparentemente perfeitas estimula comparações pouco saudáveis para o psicológico. “Nessas redes sociais, é comum que as pessoas se comparem com outras em milhares de fotos ou vídeos que, na maioria das vezes, são editados ou estão repletos de filtros para apagar pequenas imperfeições que todos nós temos”, comenta Felipe.

A busca por padrões irreais de beleza é um problema pouco discutido pelos homens, mas também é presente no universo masculino. Se comparar a atletas, atores e outras celebridades com um estilo de vida e porte físico diferentes do seu pode contribuir para problemas de autoestima.

Com a adoção do home office por diversas empresas, as reuniões via vídeo-chamada se tornaram parte do cotidiano e também parte do problema. Para muitas pessoas, a imagem vista na tela do computador revela defeitos antes não percebidos, o que causa incômodo, nervosismo e ansiedade, além de aumentar a autocobrança e a busca por formas de parecer bem apresentável no vídeo.

Reconhecer o problema e procurar ajuda são os primeiros passos para se livrar da ansiedade do espelho

Quem sofre de ansiedade - do espelho ou não - no Brasil não está sozinho. Segundo dados da OMS, o país é líder no ranking mundial com mais de 19 milhões de brasileiros diagnosticados. Os dados se refletem no dia a dia de atendimento no consultório de Felippe Borges. “Os principais casos que chegam aos consultórios são os casos de ansiedade e depressão”, afirma o especialista e ressalta os principais sintomas para ambas as doenças.

“Os sintomas nem sempre irão se manifestar da mesma forma para cada pessoa e dependerão da história de vida de cada um. Em geral, para ansiedade temos como principais sinais: preocupação excessiva, dificuldade em controlar preocupações, fatigabilidade e perturbação no sono”, enumera. “Na depressão, os principais sinais são: humor deprimido, perda de prazer ou interesse nas atividades que costumava realizar, insônia e sentimentos de culpa ou inutilidade constantes”, completa.

E como lidar com o problema? Bem, o primeiro passo é fazer uma autoavaliação e reconhecer que os longos minutos encarando o  espelho diariamente procurando por defeitos e a autoestima baixa não são normais.  “Tirar um tempo para olhar para si mesmo, buscando compreender emoções, sentimentos e motivações, é essencial para já realizarmos um primeiro 'diagnóstico'”, diz Felippe.
Depois disso, é fundamental superar preconceitos e tabus relacionados à masculinidade para procurar ajuda psicológica. “Ao contrário dos preconceitos associados à área da psicologia, passar por um processo de psicoterapia está longe de significar fraqueza ou loucura. É um ato de coragem, de caminho ao autoconhecimento”, incentiva o psicólogo.

Felippe Borges é psicólogo e atende online e em São Paulo - SP | CRP-SP 06-168917 | Instagram

Por: Amanda Santos



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